sábado, 17 de abril de 2010

Querido Diário,

Você sabe o que é obsediar alguém? Obsediar é exercer o domínio sobre o outro, parasitar. Obsediar alguém é fazer de mente e corpo alheios sua morada, seu templo. De certa há em você – nessas páginas brancas que se contorcem por palavras – desejo pelo aprisionamento de mim, pela minha eternidade. De nós alimenta-se uma rotina. E dela eu tomo controle. Porque você não pode além de, com essas páginas brancas, me seduzir. Você não pode me tocar.
Seu parasitismo em mim é apenas essa página de diário. Essa aqui, agora, esse contato direto nesse exato momento. E agora, Querido Diário, ficou claro o que é obsediar alguém?

Obsediar alguém é observar. Obsediar é querer, é apossar. Obsessão é o que ele me faz sentir. E não o que eu sinto por ele.

Ele: Pessoa do sexo oposto ao meu, misteriosamente misteriosa, secreta. Dono dos mais belos olhos que vi nos últimos tempos, cílios invejáveis, traços do corpo marcantes e definidos. Jeito carente de um menino em uma roupa de homem. Em uma dor de homem. Amor de menino. Idéias de encontro às minhas. Busca pela liberdade eterna e pelo amor terno, busca pelo equilíbrio do corpo. Belo em suas fraquezas. Reflexo de uma imagem oculta da vida que foi. Companheiro em dimensões incompreensíveis. De comprometimentos sem garantias. Eterno. Único motivo para todas as outras razões.

Sinto que avessa a toda minha vontade de me obsediar dessa obsessão, eu não devo prosseguir aqui. Diários de obsessão são meus dias, cotidianamente pertubadores em alguma parte da minha mente. Mas não há de ser em vão uma página de diário se de branca ela passa a ser palavra, se eu registrá-la e de forma, passar a ser ela, prisioneira de mim.
Hoje e apenas hoje não coube dentro do espaço do corpo e mente pensar e sentir ele. Precisei desse espaço de papel pra dizer. Mas só essa página. Essa e só. Já me basta ele. Ele e eu.